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21 de junho de 2013

Sobre a contemplação do tempo numa visita ao asilo.

Nunca pensei que o tempo pudesse ser tão mesquinho e cruel, eu, amante das rugas e de longas histórias, me senti tocando o fio do futuro quando visitei um asilo pela primeira vez. A solidão que emanava das pessoas era glacial de tal forma que me senti paralisada por alguns minutos, não conseguia sorrir, ser cordial ou simplesmente dizer oi a alguém. Quando, de um em um, os queridos velinhos foram levados para o pátio, eu não consegui fugir daqueles olhos, daquelas retinas fatigadas e desgastadas, sucumbi ao abismo do tempo e fui levada pela história. Havia crianças, crianças de colo que desaprenderam como se anda, crianças querendo chamar atenção, a competição era para ver quem cativava mais. Os que ainda se lembravam de como se fala se atropelavam em casos e casos, enumeravam filhos, netos, bisnetos, papagaios, gatos e cachorros.  As lembranças frescas na memória confirmavam como a vida é efêmera, como somos um simples rascunho que não custa ir para o lixo.
Eu conheci ladies e gentlemen, poetas falidos, charlatães, conquistadores baratos e quem só queria viver a vida em paz. E percebi que o que temos hoje, é a memória dolorida de amanhã, que servimos o tempo e ele nos destrói e que família é a melhor coisa do mundo.
H. Conrado, pos-guerra | Tumblr. 

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